O que são ultraprocessados

Alimentos ultraprocessados são produtos industriais criados a partir de ingredientes refinados, modificados ou artificiais — e não de comida real. Caracterizam-se por incluir farinhas refinadas, óleos vegetais altamente processados, açúcares, gorduras saturadas ou trans, além de aditivos como conservantes, corantes, emulsificantes, aromatizantes e estabilizantes. Por causa da sua formulação, eles não se assemelham aos alimentos originais em nutrientes ou estrutura.

Exemplos típicos: salgadinhos de pacote, biscoitos recheados, sobremesas prontas, refeições congeladas, refrigerantes, embutidos, pães industriais à base de farinha branca e outros preparados ultraprocessados.


Evidências científicas: o que diz a The Lancet

Em 2025, a NUPENS — por meio de sua colaboração com a Série The Lancet sobre Alimentos Ultraprocessados e Saúde Humana — divulgou um conjunto robusto de artigos que analisam os impactos desse tipo de alimento na saúde, na economia e na sustentabilidade global. 

A publicação conclui que o consumo frequente de ultraprocessados está associado a diversos efeitos deleterios para a saúde, tais como:

  • maior risco de distúrbios digestivos e disbiose intestinal

  • aumento da permeabilidade intestinal (intestino permeável) e inflamação crônica

  • maior incidência de obesidade, síndrome metabólica, diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares

  • impacto negativo sobre saúde geral, qualidade de vida e bem-estar

Além disso, os autores apontam a necessidade de políticas públicas para reduzir a produção, o marketing e o consumo desses alimentos, devido ao seu potencial de sobrecarga para o sistema de saúde, para o meio ambiente e para a segurança nutricional. 

Em termos práticos: para quem já apresenta sensibilidade intestinal, fermentação exagerada, disbiose ou permeabilidade — como muitos pacientes em sua clínica — o consumo de ultraprocessados torna-se especialmente prejudicial e contra-indicada.


"O alto consumo de ultraprocessados está associado à pior qualidade da dieta, maior risco de doenças crônicas e profunda deterioração da saúde humana."


Segundo a série da Lancet, o impacto dos ultraprocessados s vai muito além de nutrientes críticos (açúcar, sódio e gordura). Ele envolve:

  • degradação da matriz alimentar

  • hiperpalatabilidade intencional

  • textura, aroma e sensações projetadas para gerar consumo exagerado

  • aditivos com impacto acumulado na saúde intestinal e metabólica

Além disso, mesmo versões “reformuladas” — isto é, com menos açúcar, sal ou gordura — continuam sendo ultraprocessadas e mantêm os mesmos mecanismos de dano. Reformular nutrientes, sem tocar na lógica industrial do produto, não resolve o problema. Pelo contrário, muitas vezes aumenta outros aditivos e substitutos. Portanto, cuidado com produtos que parecem saudáveis mas nem sempre podem ser como: barrinhas proteicas, bebidas proteicas, whey protein....


Por que ultraprocessados prejudicam o intestino e a saúde

Os problemas dos ultraprocessados vão além do excesso de calorias e pobre valor nutricional. Alguns mecanismos tornam seu efeito particularmente nocivo:

  • Sobrecarga fermentativa: ingredientes refinados e aditivos favorecem crescimento exagerado de bactérias e leveduras oportunistas, levando a gases, distensão, inflamação e desequilíbrio da microbiota

  • Alteração da barreira intestinal: aditivos como emulsificantes e estabilizantes interferem na integridade da mucosa, aumentando permeabilidade intestinal e favorecendo “intestino permeável”

  • Desequilíbrio metabólico: excesso de açúcares, gorduras saturadas, sódio e aditivos promove inflamação, sobrecarga hepática, alterações metabólicas e risco de doenças crônicas

  • Estímulo ao consumo compulsivo: esses alimentos são formulados para serem hiper-palatáveis (sabor, crocância, sal, gordura e açúcar) — ativam circuitos de prazer no cérebro semelhante a substâncias de recompensa, gerando desejo, compulsão e consumo exagerado

Esse padrão torna difícil a manutenção da saúde intestinal e metabólica, especialmente em quem já apresenta sensibilidade digestiva.


A Lancet é clara: o problema é sistêmico, e a solução exige políticas públicas

A Série afirma que campanhas educativas e recomendações individuais são insuficientes. Embora possam ajudar, não chegam à raiz do problema.

“As políticas devem atuar diretamente nos fatores do sistema alimentar que impulsionam a produção, o marketing e o consumo dos alimentos ultraprocessados.”

Isso inclui:

  • controle regulatório sobre a composição dos produtos

  • rotulagens mais rígidas

  • restrições de marketing (especialmente para crianças)

  • impostos seletivos

  • limites legais para aditivos como emulsificantes, edulcorantes e corantes

  • regulação sobre cadeias produtivas

  • fiscalização sobre grandes corporações que moldam consumo e política alimentar

A Série destaca que a responsabilidade não é do consumidor — é do sistema, das empresas e da ausência de políticas.


“A responsabilidade pelo predomínio de padrões alimentares centrados em ultraprocessados recai menos sobre os consumidores, e mais sobre as empresas de alimentos, que devem ser responsabilizadas.”

Por isso, embora mudanças individuais sejam importantes, é incoerente responsabilizar indivíduos quando ambientes e sistemas alimentares pressionam a escolha pelo ultraprocessado: rapidez, baixo custo, marketing invasivo, escassez de tempo e reorganização social do trabalho.


Enquanto as políticas não chegam, como agir individualmente

Até que tais políticas avancem no Brasil, precisamos atuar no nível pessoal e clínico, com estratégias acessíveis e educativas.

Aqui abaixo estão orientações simples e práticas para reduzir ultraprocessados na rotina.




Como identificar ultraprocessados de forma fácil

Para não depender apenas da embalagem ou de classificações abstratas, convém ensinar a identificar ultraprocessados por sinais práticos no rótulo:

Sinais de alerta de que é ultraprocessado:

  • lista de ingredientes longa e complexa

  • presença de aditivos como: corantes artificiais (ex: tartrazina, caramelo, corantes “E-”), conservantes (benzoato, sorbato, nitrito, nitrato, BHT, BHA), estabilizantes e emulsificantes (lecitinas, mono/diglicerídeos, polissorbatos, carragenina, gomas, etc.)

  • gorduras saturadas ou hidrogenadas, óleos refinados ou hidrogenados

  • açúcares adicionados em várias formas: xarope de milho, dextrose, maltodextrina, açúcar invertido etc.

  • alto teor de sódio

  • afirmações de “sabores artificiais”, “conservantes” ou “aromas idênticos aos naturais”

Se o alimento apresentar vários desses elementos, dificilmente será compatível com uma dieta de reequilíbrio intestinal e de saúde



Mensagem da Nutri

“Ultraprocessados não são apenas uma escolha menos saudável — para quem vive com desconfortos intestinais, fermentação ou sensibilidade, eles podem comprometer toda recuperação. Eles chegam com corantes, conservantes, emulsificantes, excesso de sal, açúcar e gordura — e acabam alimentando um ciclo de inflamação, desequilíbrio microbiano, sintomas digestivos e aumento do risco de doenças crônicas. Por isso, neste momento de reequilíbrio, o ideal é trocar industrializados por comida de verdade, simples, natural e nutritiva.”




Maysa Simões

Nutricionista

CRN-3 - 91088